domingo, 12 de abril de 2009

A Vida Por Um Fio

Todo personagem de uma história tem um objetivo. Se ele não o tivesse, qual seria o sentido de contar a sua história? A vida parece ser feita de forma parecida, ou seja, não conseguimos ser felizes sem termos um objetivo, uma meta, um sonho. Tendo isso, o resto parece fácil. É verdade. Qualquer obstáculo, qualquer problema, qualquer sacrifício parece irrelevante e quando há um comprometimento e uma vontade genuína, tudo será enfrentado. É como se não existisse o impossível. Não é difícil pensar num filme que demonstre isso. Afinal, o que é o “final feliz” além do cumprimento do objetivo do personagem? E quantos filmes conhecemos com finais felizes? Inúmeros, é verdade, no entanto, poucos realmente despertam uma esperança no espectador. Talvez por parecerem falsos ou muito clichês.
Ao contar a história verdadeira do francês Philippe Petit, no documentário “O Equilibrista” (Man On Wire), de 2008, o diretor James Marsh nos dá 90 minutos de superação, vontade, sonhos e realizações. Petit se tornou famoso em 1974, ao fazer a travessia entre as duas torres do World Trade Center, em Nova York, equilibrando-se através de um cabo estendido a mais de 400 metros do chão. Fazer isso sem nenhuma proteção, por si só já é um feito incrível. Mas o que Marsh nos proporciona são os bastidores do evento. Afinal, não era permitido estender um cabo entre os prédios, não era permitido que pessoas entrassem no WTC enquanto ele ainda estava em construção. Então, como o grupo liderado por Petit conseguiu montar toda a estrutura e pôr em prática o chamado “golpe”? Foi quase como um filme de roubo, cheio de esquemas, invasões, cúmplices, esconderijos, guardas, empecilhos, fracassos, vitórias e suspense também, afinal estamos falando de um homem pendurado num cabo entre aqueles que eram os edifícios mais altos do mundo. A vontade deles de realizarem esse sonho era tanta, que mesmo com tantos erros, medos e obstáculos aparentemente impossíveis, eles conseguiram. Criaram soluções tão engenhosas, não por serem gênios, mas porque eram determinados! Por exemplo, usaram um arco e flecha para mandar o cabo de uma torre para a outra, podendo assim esticá-lo.
O filme também é uma homenagem à cidade de Nova York. Um filme de um diretor inglês, sobre um francês nos EUA. O filme deixa de lado o que acontece às Torres Gêmeas do WTC em 2001 e, assim, deixa no espectador uma memória diferente das Torres do que a de 11 de setembro. É interessante notar que os dois acontecimentos têm muitos pontos em comum. Mesmo cenário com imagens igualmente surpreendentes. De um modo até cruel, ambos são realizações de um sonho. O sonho de verem o WTC em ruínas e o sonho do homem em estar mais alto e livre do que jamais imaginou.
Afinal, é um filme sobre o WTC? É um filme sobre Nova York? É um filme sobre a invasão de um prédio? É um filme sobre Philippe Petit? É tudo isso, mas o principal é que ele é um filme sobre buscar um sonho, um filme sobre enfrentar problemas, um filme sobre a realização da vida, um filme sobre o que é se sentir vivo e realizado. Petit não atravessou só um cabo. Ao sair do terraço do prédio, ele era um sonhador. Ao voltar ao terraço, ele era um homem realizado. Nem o incomodou o fato de ele ser preso, isso estava nos planos, assim como ele sabia que era um ato contrário às leis locais. Só que poucas pessoas vão dizer que foi errado e ninguém pode dizer que isso foi um crime. Pergunte àqueles que presenciaram o evento, se eles gostariam de tê-lo apagado de suas memórias.
O filme poderia ser resumido em uma frase: “Onde há uma vontade, há um caminho”.
Oliver Kovacevich Altaras

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