terça-feira, 21 de abril de 2009

Além das Sobrancelhas

Primeira observação: Scorsese com certeza é um diretor meticuloso, perfeccionista e aparentemente muito ansioso - não sossega enquanto não tem tudo sob controle. Sabe aquele jeito “precisa ser do meu jeito?”, mais ou menos assim! Isso eu pude perceber no filme “The Rolling Stones – Shine A Light”. Ele não sossegou enquanto ele não estava com a lista das músicas que tocariam no show. Detalhe que a banda só entregou a lista minutos antes do show começar. Não esperaria atitude diferente de uma banda na qual Mick Jagger e Keith Richards fazem parte.
Natural de Queens, em Nova Iorque, Martin Scorsese nasceu em 17 de novembro de 1942. É de uma família italiana (será que é por isso que ele adora a máfia?), e terminou o curso de Cinema da Universidade de Nova Iorque aos 22 anos. Desde estudantes seus curtas já começaram a fazer sucesso, e antes de se formar o diretor Roger Corman o convidou para dirigir “Sexy and Marginal”, em 1972. Grande menino prodígio, hein? A partir da década de 70 só deu Scorsese. Ele conseguiu entrar no “clube” dos grandes cineastas hollywoodianos através de seus filmes pautados em boas histórias, temas profundos – muitas vezes sobre violência urbana – e personagens marcantes (o que melhor para exemplificar isso do que De Niro em T
áxi Driver). Aliás “Táxi Driver” foi responsável pelo quase assassinato do presidente Ronald Reagan. O jovem aspirante a assassino disse que fez aquilo por estar obcecado pela personagem de Jodie Foster no filme – ela ganhou o Oscar de Melhor Atriz pela personagem.
E para muitos que não sabem, o cinema quase perdeu Scorsese para a batina. Isso mesmo! Scorsese antes de ser cineasta queria ser padre. Ele sempre quis influenciar as pessoas de alguma maneira. A religião sempre foi um modo de conseguir isso, mas quando descobriu o cinema, por que não? Mas ele não ignorou simplesmente o lado religioso. Essa vocação dele, as indagações e questionamentos em relação à
Deus resultou num dos filmes mais polêmicos da história do cinema: “A Última Tentação de Cristo”. A história mostra como seria o mundo caso Jesus Cristo tivesse se rendido a tentação.
Martin sempre deixa seu ponto de vista pessoal, suas idéias e crenças nos seus filmes. Ele também deixa seus parentes por ali. Isso mesmo, alguns fazem pontinhas especiais em seus filmes, como a mãe Catherine que faz o papel da mãe de Joe Pesci no filme “Os Bons Companheiros”.
Scorsese é considerado por muitos um dos melhores diretores americanos, ainda vivos, que está na ativa. Seus filmes geralmente são sucessos, mas só em 2007, com o filme “Os Infiltrados” que ele conseguiu faturar o Oscar de Melhor Diretor. Também pudera, ninguém mais agüentava esse chove e não molha. Scorsese parou no “quase” várias vezes, sendo mais especifica foram 6 indicações, com apenas 1 prêmio. Em 1980 com ‘Touro Indomável”, 1988 com a “A Última Tentação de Cristo”, “Os Bons companheiros” em 1990, Gangues de Nova Iorque em 2002, “O Aviador” em 2004 e finalmente “Os Infiltrados” em 2006. Valha-me Deus. O esforço foi grande, mas finalmente vimos Scorsese receber o tão esperado prêmio e vindo da mão dos grandes Coppola, George Lucas e Steven Spielbe
rg.
Brian De Palma foi o responsável pela grande parceria entre Scorsese e De Niro. Ele que os apresentou. Através de uma relação íntima baseada em muita amizade Robert De Niro participou de 7 grandes projetos lançados por Scorsese. 7 grandes filmes e 7 grandes sucessos. Foram eles: “Caminhos Perigosos”, “Táxi Driver”, “New York, New York”, “Touro Indomável”, “O Rei da Comédoa”, “Os Bons Companheiros” e “Cas
sino”. Parceira boa essa! Toda a experiência e capacidade de De Niro unidos com a genialidade e meticulosidade de Scorsese. “New York, Nem York” talvez não tenha arrebentado tanto assim, a crítica o considerou meio indigesto. Mas enfim, nem tudo sai como a gente quer!
Em “Cassino” e “Os Bons Companheiros”, filmes aos quais assisti recentemente, nota-se a importância que se dá a cada cena. Tudo é realmente pensado, nada é feito por acaso, principalmente nas cenas de violências. “Cassino”, por exemplo, teve que passar por uma leve censura. Uma das cenas em que Joe Pesci bate a cabeça de um homem num vaso até que seus olhos saltem precisou ser retirada do filme. Sem falar que a palavra “fuck” é dita 362 vezes no filme.
O importante que deve ser ressaltado em relação ao diretor Scorsese é a relevância temática na qual a maioria de seus filmes está envolvida e a naturalidade com a qual tudo deve acontecer – desde os diálogos e interpretação até a produção da cena. “Cassino” mostra a Las Vegas dos anos 70 dominada pela Máfia, e que depois que todo esse esquema acabou Las Vegas não passou de mais uma Disneylândia, como o personagem de Robert De Niro encerra o filme. “Os Bons Companheiros” con
ta a história verídica de Henry Hill, que também está toda num contexto mafioso da época. Filmes de máfia são os meus preferidos, e Scorsese consegue colocar para a câmera todo o contexto e atitudes dos personagens.
E o que falar da trilha sonora! Já comentei anteriormente que considero trilha sonora imprescindível para dar continuidade e movimento ao filme. Isso é o que não falta nos filmes de Scorsese. Grandes nomes são usados por ele, como Rolling Stones (não é por acaso que ele fez um filme com os caras). Vários filmes contem músicas da banda, músicas que dão ritmo e significado às cenas. Scorsese pensa em tudo, nos mínimos detalhes.
Confesso que estou um pouco preocupada com o exercício de reconstruir uma cena de seus filmes. Seus ângulos são muitas vezes complicados, ângulos diferentes, câmeras que se movimentam o tempo todo. A dinâmica é muito presente. Sem falar na contextualização de seus filmes. Outra coisa que é impossíve de não observarmos é que em muitos de seus filmes Scorsese usa a voz de seus personagem em off, narrando a história, contextualizando.
Scorsese tem muitas vezes o costume de fazer pequenas pontinhas nos seus filmes. Ele aparece em vários como, “Táxi Driver”, “A Cor do Dinheiro”, “Touro Indomável”, “Caminhos Perigosos”, “Época da Inocência”, etc, etc, etc. E quem não lembra dele na animação “O Espa
nta Tubarões”? As sobrancelhas o denunciam!
Mas não podemos ficar somente levantando a moral de Martin. Todo diretor tem seus dias ruins, projetos ruins e filmes ruins. Como Scorsese é um cara normal isso também aconteceu com ele. Eu ainda não assisti, mas dizem que “Kundun” apenas servi
u para que Scorsese não pudesse mais pisar em solo chinês. “Vivendo no Limite” como Nicolas Cage foi também um filme que não lhe rendeu boas graças. Pode-se dizer que é um filme morno. E, na minha opinião, “O Aviador”, por mais que tenha recebido 11 indicações ao Oscar, é um filme pra lá de cansativo, monótono e chato. Mas cada um é cada um. Boatos que a produção de “Gangues de Nova Iorque” superou os gastos permitidos e que Scorsese era tão chato e perfeccionista que nem os atores estavam mais agüentando o ritmo imposto pelo diretor. Dizem que ele devolveu os 6 milhões de dólares que excedeu dos gastos permitidos.
Com erros e acertos Scorsese se fez no cenário do cinema internacional. Tem nome e a marca do seu estilo. É fã de Glauber Rocha, Rolling Stones, tem sobrancelhas marcantes, dirige filmes polêmicos, investe no psicológico de seus personagens, gosta da máfia italiana e tem uma grande parceria com Robert De Niro. Mas principalmente ele valoriza temas, contextualizações e polêmicas que venham influenciar na vida real e para todos aqueles que assistam aos seus filmes.
Durante as próximas postagens muitas serão dos filmes do Scorsese. To numa sessão de cinema só dos filmes do Scorsese! Até a próxima então, quero ver se hoje consigo ainda dar conta de dois filmes!

Eu havia esquecido da filmografia do diretor, mas agora tá ae!


2008 - The Rolling Stones - Shine a light (Shine a light)
2006 -
Os infiltrados (Departed, The)
2004 -
O aviador (Aviator, The)
2002 -
Gangues de Nova York (Gangs of New York)
1999 -
Vivendo no Limite (Bringing out the dead)
1997 -
Kundun (Kundun)
1995 -
Cassino (Casino)
1993 -
A Época da Inocência (The age of innocence)
1991 -
Cabo do medo (Cape Fear)
1990 -
Os Bons Companheiros (Goodfellas)
1989 -
Contos de Nova York (New York Stories)
1988 -
A Última Tentação de Cristo (The last temptation of Christ)
1986 -
A Cor do Dinheiro (The color of money)
1985 -
Depois de Horas (After hours)
1983 - O rei da comédia (The king of comedy)
1980 -
Touro Indomável (Raging Bull)
1978 - O último concerto de rock (The Last Waltz)
1977 -
New York, New York (New York, New York)
1977 - American Boy
1976 -
Taxi Driver - Motorista de Táxi (Taxi Driver)
1974 -
Alice Não Mora Mais Aqui (Alice doesn't live here anymore)
1973 - Caminhos Perigosos (Mean Streets)
1972 -
Sexy e Marginal (Boxcar Bertha)
1970 - Street Scenes (Curta-Metragem)
1968 - Who's That Knoking At My Door (Curta-Metragem)
1967 - The Big Shave (Curta-Metragem)
1964 - It's Not Just Murray (Curta-Metragem)
1963 - What's a Nice Girl Like You Doing In a Place Like This (Curta-Metragem)


Por Fernanda Giotto Serpa

Nenhum comentário:

Postar um comentário