quinta-feira, 23 de abril de 2009

Opostos


A primeira impressão que se tem ao analisar os dois personagens infiltrados do filme, é que Billy Costigan, vivido por Leonardo Di Caprio, é o “bad guy”. Jeitinho de marrento, aparentemente metido a caloteiro, classe baixa e cheio de parentes com má fama na polícia. Já Colin Sullivan é aquele cara que toda sogra quer pra genro. Dedicado, estudioso, educado, muito polido. Jeitinho de que a mamãe passou talco na bunda.
Mas quando você começa a assistir ao filme e entender a trama você percebe que os papéis são inversos. Apesar de Billy não possuir bons exemplos vindo dos tios e ter esse jeito meio estourado é ele que é o cara que quer ver as coisas certas, acontecerem do jeito certo. Quer ver o bandido na cadeia sim. Inclusive se arrisca muito quando se infiltra no grupo de Costello, que é o tipo do cara que não vê problema algum em matar qualquer pessoa que o incomode, ou que venha atrapalhar seus planos.
Colin é o tipo exemplo na polícia. Aquele cara que se pode confiar. Ficha limpa, trabalhador, faz o que precisa fazer com esmero. Prova disso é o fato de Ellroy (Alec Baldwin) ter dado para ele a função de encontrar quem era o homem de Costello que estava infiltrado na polícia. Ele precisava procurar a ele mesmo. Irônico isso!
No início do filme, quando vemos Colin ainda criança, subentende-se que ele tinha dificuldades em casa. Durante o filme há poucas menções sobre a família de Colin. O pai era aquele homem que trabalhava duro, pra trazer o pouco que conseguia para dentro de casa. Quando menos esperava Colin encontra Costello, que o enche de comida, leite, gibis e pra não deixar o menino liso como está ainda dá algumas moedinhas, trocados. Pronto! A ambição é uma coisa difícil de conter, mesmo que seja numa criança. Para alguém que nunca teve nada e passa a ver a possibilidade de ter, começar ganhando uns trocados é um bom convite para amizade.
O coroinha Colin, aquele menino de boa índole, deixa-se levar por Costello. Descobriu sim o lado prazeroso da vida, que muitas vezes é o poder econômico que sustenta, mas também descobriu um lado sujo. Afinal, vivendo com um mafioso, que manda no crime organizado de Boston, é fácil descobrir qualquer tipo de sujeira que exista no mundo.
Já Billy é o tipo do cara que nasceu pra se dar mal. Na família nenhum tio, ao visto, se salva. Grande parte já se envolveu com a polícia, como o tio Jackie que era agente de apostas em um bar de veteranos, ou o tio Tommy Costigan preso por vender armas e outros desvios de conduta. Também tem um tio padre que acabou casando com um garoto de 12 anos e agora está na Tailândia. Que família adorável, hein? Por que Billy seria diferente? Talvez o pai seja a chave. O velho era humilde, trabalhava de carregador de malas num aeroporto. Nunca fez nada para ninguém, apenas trabalhou. A mãe, que morreu recentemente de câncer, irmã de todos os caras “gente boa” que eu citei acima, pode ter parte também na diferente educação de Billy – o filme não comenta explicitamente. A família Costigan conseguiu prestígio, graças ao crime organizado. Dignam o chama de “irlandês riquinho metido a besta”. A única coisa que Billy não quer é ter alguma relação com qualquer tipo de crime. Por isso ele quer ser um policial, para combater isso tudo.
Colin e Billy são extremos opostos. Analisando um pouco o trajeto de ambos, eles trocaram seus rumos. Cada um tornou-se o oposto do que deveria ser! E agora, na trama de “Os Infiltrados”, suas ações vão se cruzar de pontos diferentes. Billy, o policial que quer cumprir o seu dever da melhor maneira vai estar na pior ao lado de Costello. Já Colin, o mal-intencionado, infiltrado para corrupção, vai estar em seu luxuoso apartamento, conseguindo a promoção do ano e procurando ele mesmo. Trabalho difícil, não?

Por Fernanda Giotto Serpa

Nenhum comentário:

Postar um comentário