sexta-feira, 24 de abril de 2009

Crime em Sparta

“No Calor da Noite” é o ganhador do Oscar de Melhor Filme de 1967. O filme conta com a atuação de Sidney Poitier no papel principal Virgil Tibbs. A história se passa no estado do Mississipi, na cidade de Sparta, onde os habitantes conservam o preconceito em relação aos negros. Uma cidade sulista típica da época. Só por curiosidade, Poitier fez mais dois filmes no papel de Virgil Tibbs que são "Noite Sem Fim" (1970) e "A Organização" (1971).
Tudo está muito calmo na cidade, até que o policial Sam Wood encontra o corpo do Sr. Colbert jogado numa rua. Colbert era um figurão da cidade, um empresário cheio da grana que estava planejando implantar uma nova fábrica na cidade. Isso geraria emprego para os negros e suas famílias que trabalhavam nas plantações do algodão. O chefe de polícia Bill Gillespie manda seus empregados procurarem pela cidade qualquer pessoa estranha que esteja vagando por ali. Wood encontra Virgil Tibbs e o prende. Primeiro porque ele é negro, segundo porque sua carteira estava recheada de dinheiro e terceiro porque ele era um estranho sentado numa estação de trem durante a madrugada. Pra que investigar mais, certo?
Quando Wood traz o suposto assassino para delegacia Gillespie descobre que de criminoso ele não tem nada. Ele trabalha na Pensilvânia como perito em homicídios. Quem diria, um negro que tem um cargo melhor que o dele e ganha muito mais que ele. Gillespie precisou engolir o seu orgulho. E para piorar a situação o chefe de Virgil manda ele ficar na cidade para ajudar na solução do caso. E é aí que a trama começa, de suspeito em suspeito o branco e o negro juntos – com suas desavenças – vão atrás do culpado.
O mais curioso no filme é o papel de Gillespie, interpretado por Rod Steiger. No início a primeira impressão que se tem é que ele é muito antipático, e uma pessoa sem escrúpulos quando ele tenta prender Tibbs muito mais pelo preconceito do que pelas evidências. Mas depois você entende que esse racismo está tão incrustado na sociedade que a culpa não é diretamente dele. É mais uma questão de ensinamentos, educação. Eles nasceram aprendendo a não gostar dos negros. Com o passar do filme o papel de Rod Steiger é o mais simpático e engraçado. O ator, a pedido do diretor Norman Jewison, precisava mascar chicletes sempre que estivesse em cena. No começo ele não gostou muito, mas no final do filme foram 263 chicletes mascados. Do policial metido a besta, ele passa a ser um gordinho muito gente-fina. A relação dele com Tibbs p
assa a ser uma discreta amizade. É muito cômica a maneira como Gillespie se preocupa com Tibbs. Cômico também é o trocadilho que Gillespie faz, por provocação, com o nome de Virgil – Virgil lembra “virgin”.
Rod Steiger ganhou o Oscar de Melhor Ator pela atuação no filme. O filme também ganhou o Oscar nas categorias de Melhor Edição, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Som. Falando em som, a trilha sonora inteira do filme é de ninguém mais, ninguém menos do que Ray Charles. Muito jazz, country e gospel de alta qualidade e estilo. Aliás, indico também o filme “Ray”, com Jamie Foxx. A cinegrafia do músico sensacional, mas sem deixar de lado todos os seus problemas. Ganhou o Oscar de Melhor Som e Melhor Ator. Mas voltando ao filme, a trilha sonora cola certinho com o estilo do filme. É gostoso de ver e ouvir.
Em contrapartida à atuação de Steiger e Poitier muito dos outros atores acabam interpretando de maneira forçada, como o papel da menina de 14 anos, Delores Purdy. As falas não soam de maneira natural, dando a impressão de amadorismo por parte da atriz. O mesmo acontece com o personagem Harvey Oberst. Até agora não sei dizer se ele tem algum problema mental, ou se ele estava querendo fazer um papel de sacana.
Mas da mesma maneira a trama é boa, tanto pela maneira como ela se desenvolve como também pelos aspectos sociais em relação ao racismo que o filme expõe. E claro, não posso esquecer da excelente atuação de Rod Steiger como Gillespie e também de Poitier como Virgin. Ops, eu queria dizer Virgil.

Por Fernanda Giotto Serpa

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