segunda-feira, 6 de abril de 2009

Do infantil ao maduro.

Hoje meu texto vai ser assim, baseado em dois extremos. Começamos com o cômico e infantil “A Ilha da Imaginação”, e vamos para o célebre e maduro “Cidadão Kane”, de Orson Welles.
Nesses últimos posts tenho reparado como eu me comporto em relação ao cinema. Sou muito mais emoção do que razão. Isso é fácil observar pela quantia de adjetivos em meus textos e até pela minha animação quando falo de algo que eu gosto. Ontem pude confirmar isso assistindo ao filme “A Ilha da Imaginação”. Um filme infantil. Na verdade meu pai pegou para o meu irmão mais novo e eu assisti duas vezes – uma vez dublado com o Léo, e outra vez legendado (não suporto ficar só som a versão dublada). Eu consegui me empolgar com o filme, e assistir até o final. E olha que o filme nem é dos melhores.
O filme conta com Jodie Foster, Gerard Butler e Abigail Breslin. Um elenco razoável para um simples filme infantil. Nim (Abigail Breslin) e Jack (Gerard Butler) vivem numa ilha ao sul do Oceano Pacífico. Eles não estão totalmente isolados do mundo – possuem internet e telefone por satélite e recebem periodicamente suprimentos de navios que passam por perto dali. Mas ninguém sabe da existência da ilha, somente eles. Jack é um biólogo e cientista que procura uma nova espécie de protozoário, e resolve passar dois dias no mar para alcançar seu objetivo. Nim fica sozinha na ilha, mas que medo ela poderia ter? Afinal ela é única humana no local e ainda tem a companhia de seus amiguinhos – Galileu, o pelicano; Fred, a iguana; e Selkie, a leoa-marinha. Além disso ela é fã dos livros do herói aventureiro Alex Rover e tem um livro inteirinho dele para ler.
O problema é que Jack não volta em dois dias como havia prometido. Um cruzeiro cheio de turistas desembarca na ilha, e ela precisa defender seu esconderijo. Por e-mail ela recebe uma mensagem de ninguém mais, ninguém menos do que Alex Rover. O herói perfeito para ajudá-la nessa situação. O que a pequena Nim não sabe é que Alex Rover é na verdade Alexandra Rover (Jodie Foster), a escritora dos livros e criadora do personagem, mas que nunca se submeteu a qualquer tipo de aventura. Ela mal consegue sair de casa. E além do mais, ela conversa com o personagem que criou. Ele a impulsiona a sair mundo afora e ajudar a pequena Nim.
Como já havia falado, o filme não é dos melhores. Pela capa do filme você espera outra coisa. Muito mais aventura e ação. Na verdade você acaba com um perfil psicológico detalhada de cada personagem e sobre seus cotidianos. Os efeitos especiais em algumas cenas são muito fracos, deixando perceptiva a utilização do cromaqui. O clímax da história demora muito para começar e termina sem esperar, num toque de mágica. Quando finalmente a personagem de Jodie Foster chega na ilha e você acha que ela vai passar a ter um papel definitivo no filme, além de superar a sua própria fobia, o filme acaba. E por aí ficamos.
Sem falar que essa idéia de morar numa ilha, escondido do mundo, com internet, telefone, educação e estudo não convence muito. Ah! Uma coisa besta, mas que me incomodou o filme inteiro – ninguém toda banho! Nunca, não aparecem numa única cena, apenas alguns banhos de mar, que acontecem por acaso.
Dentre os filmes infantis esse foi realmente muito fraco. Zathura, Jumanji, Uma Noite no Museu são filmes infantis, malucos e sem um pé na realidade, mas são convincentes. Existe um roteiro bem estruturado e existe uma história por trás, e não simplesmente personagens. Eu adoro filmes infantis, esse foi um pouco decepcionante. Apesar de que eu simpatizei com a Nim, foi aí que eu percebi que minha emoção me pegou! Hahaha... Abigail Breslin é uma excelente atriz, adoro-a em Pequena Miss Sunshine!

Agora um filme mais sério e com um conteúdo mais consistente. Cidadão Kane. Direção, roteiro e atuação de Orson Welles, ano 1941. O filme conta a história do magnata das comunicações da época, William Randolph Hearst, mas com um outro nome – Charles Foster Kane. Óbvio que Hearst tentou impedir a montagem e exibição do filme, já que não estava claro que Welles falava dele, mas sim estava implícito – e as coincidências são inegáveis. Kane comprou o Inquirer, teve um caso com uma artista, comprou um teatro para ela e construiu uma mansão chamada Xanadu. Hearst tem seu jornal Exnminer, teve um caso com a jovem atriz Marion Davis, comprou o estúdio Cosmopolitan Picture para promover a carreira de Davis e construiu também uma mansão, mas em San Simeon.
O filme roda em torno da palavra “Rosebud”, que foi dita por Kane em seu leito de morte. O jornalista Thompson quer descobrir o significado da palavra e descobrir o que há por trás da vida desse homem que foi tão ambicioso e poderoso, mas morreu sozinho e isolado em sua mansão. Através desse roteiro Welles mostra toda a sujeira dentro do mundo jornalístico, e uma das práticas mais comuns, e que até hoje é utilizada visando o ganho econômico – o sensacionalismo. O tempo inteiro Kane é co como um jornalista sensacionalista, que não coloca apenas a notícias nos jornais, mas coloca informações (muitas vezes falsas) para instigar que a notícia passe a acontecer.
O começo do filme é realmente muito interessante e curioso (e me deixou curiosa também). Ele começa mostrando, com muito suspense, a mansão de Xanadu (ainda não sabemos que esta é a mansão de Xanadu e quem é o homem que morre). Apenas temos a imagem final de um homem morrendo e falando “Rosebud”. A partir disso temos um documentário, produzido por jornalistas, que explica resumidamente o que vamos ver no decorrer do filme. Eles não estão satisfeitos com o resultado. Aí entra Thompson, que vai em busca de novas entrevistas e do significado de “Rosebud”. O que me chamou atenção é que na hora da morte Kane estava sozinho. Como eles sabiam que ele havia falado a tal palavra? A trilha sonora de suspense, nos deixa mais intrigados ainda. E talvez seja também pela palavra Rosebud, que Hearst definitivamente queria o couro de Welles. Boatos de que era assim que ele chamava o c
litóris de sua amada. Bobagem ou não, achei a informação interessante...hahaha...
Cidadão Kane foi revolucionário tratando-se de cinema. As primeiras cenas, os primeiros planos são provas disso. Welles foi o primeiro a usar propositalmente a profundidade de plano. A fotografia e luz também são esteticamente pensadas. No decorrer do filme, quando o lado sombrio de Kane vai aparecendo em suas atitudes, as imagensAdicionar imagem ficam mais escuras e mais fechadas, intencionalmente. Uma curiosidade é que muitos dos cenários não foram produzidos por inteiros, para diminuir custos. Logo a utilização das câmeras teve que ser muito bem pensada para valorizar o material que tinham. E Welles conseguiu.
Sem falar nos flashbacks e as transições de imagens. O filme, aparentemente, funciona como um documentário. Thompson vai atrás das pessoas que conviveram com Kane e eles vão contando casos e momentos que passaram com ele. Assim que eles começam a contar, temos a encenação da cena contada. Isso dá uma rotatividade e dinâmica para o filme. E também o fato de não possuir muitas imagens paradas e câmeras colocadas da maneira “tradicional”. Orson Welles usa muito travelling no filme e abusa nos planos diferentes.
Na época o filme não foi aplaudido. Hoje há um amadurecimento em relação à história de Kane e toda a crítica envolvida no filme, e uma história que nos cabe até hoje. O filme teve oito indicações ao Oscar, e ganhou apenas um devido à rejeição da época: o Oscar de Melhor Roteiro.
Assista abaixo um trecho do filme. Essa cena mostra Kane fazendo um discurso político, difamando claramente o candidato opositor e fazendo promessas. Não possui legendas, mas observe os ângulos de câmera utilizados. De cima para baixo quando está filmando Kane, e de baixo para cima quando filma o jornalista de Kane, sentado junto com o público. E veja também a grandiosidade do plano geral e da última cena, onde o opositor que está sendo difamado analisa tudo o que está acontecendo de longe.
Por hoje é só!







Por Fernanda Giotto Serpa

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