sexta-feira, 13 de março de 2009

Os ombros, os olhos, as rugas...

Só para fazer uma pequena introdução...Fiz esse perfil sobre Al Pacino há algum tempo. Hoje ainda admiro muito o ator, e não tiro uma palavra, um elogio que fiz nesse texto. Confesso que seus últimos filmes não tem me mostrado nada além do que conheço: sempre o mesmo personagem cansado da vida. Duas Faces da Lei foi uma decepção para mim, também porque Robert De Niro veio para abrilhantar o elenco e no final não é bem isso que acontece. Achei o filme previsível e os dois grandes atores fazendo papéis que já os vimos fazendo em outros filmes. Mas repito, minha admiração por Al Pacino não muda. Sempre que ele estrear em algum filme, vou assistir.
Pra esclarecer também. O perfil foi baseado em algumas edições da revista SET, em alguns sites e eu também assisti praticamente a filmografia inteira do ator! As referências bibliográfias eu trago depois, não estou com as revistas no momento. Faça bom proveito...

Primeiras Cenas


A porta se fecha e a figura do pai some para sempre com uma mala na mão. Um problema para a criação de um filho que se espelha na figura paterna. Mas Alfonso James Pacino soube se virar muito bem. Não foi a falta de um pai que o impediu de aparecer para o mundo.
Até aos 7 anos o que o impediu de colocar o nariz para fora de casa foi a super-proteção dos avós. Após o abandono do pai, ele e a mãe, Rose Pacino, foram morar com os pais dela no violento bairro do Bronx, em Nova Iorque.
Ele não conseguia ver a violência nas ruas, mas a criava dentro de casa. O gângster, o mafioso, o cowboy vinham se refugiar nas encenações de Al Pacino. As mímicas dos personagens, que fazia para sua tia surda, tirados das telas do cinema, também foram um dos motivos para que o menino se interessasse pela dramaturgia. As mentirinhas inocentes de criança não podem deixar de serem comentadas: ele dizia para os colegas de escola que já havia morado no Texas e que tinha 10 cachorros em casa. Tudo mentira! Al Pacino nem gosta de cachorros.
Na escola nunca foi bom nas matérias tradicionais, como matemática e português. Destacava-se nas aulas de teatro e os professores perceberam. O menino era talentoso, ele tinha um certo “Q” de artista. Começou a fazer os papéis principais nas peças escolares e era o leitor oficial da Bíblia, logo a mãe o colocou em cursos de interpretação.
Mas
o problema veio depois, quando sustentar Al já não estava sendo fácil e Rose concluiu que atuar era coisa de rico, conseqüentemente não era coisa para o jovem Alfredo.
Mas quem disse que Al Pacino é de abaixar a cabeça? Se a mãe não podia pagar ele podia. E correu atrás do prejuízo, ou melhor, do sonho. Foi faxineiro, lanterninha de cinema, mensageiro de banco, vendedor de seguros, de dicionários, sapatos e até de cachorros para cegos. Definitivamente Al Pacino foi um bom-bril. Tudo isso para conseguir fazer aulas de interpretação. Se antes ele achava essa rotina muito puxada, hoje ele dá graças a Deus.
Al Pacino pára de estudar aos 17 anos, desmotivado por não conseguir passar em Inglês. Passou a se apresentar em teatros de reputação baixíssima, precisando emprestar dinheiro para pagar os bilhetes de autocarro até as audições. Até que apareceu uma luz no fim do túnel. Seu mentor Charles Laughton que o levou para as peças na Broadway.
E assim a escalada para o hall da fama começou. Hoje ele diz que faz cinema por dinheiro, porque a verdadeira paixão dele é o teatro. Ele não nega suas origens.

Marcas que ficaram na expressão

São os olhos cansados. As rugas profundas. O semblante preocupado. Os cabelos grisalhos. A voz rouca...também pudera! Al Pacino começou a fumar quando tinha 11 anos, uma criança! Como a desgraça nunca vem sozinha, ele se afeiçoou ao álcool. Uma mistura brilhante. Aos 21 anos foi preso por porte ilegal de arma. Acho que é por isso que todos amam o ator. Ele foge do estereotipo do ator bonzinho, com o jeito certinho de viver. Ele tem defeitos, mostra isso e não está nem aí.
Após a fama de O Poderoso Chefão, Serpico e Um Dia de Cão ele viveu um caos, entrou num processo autodestrutivo e depressão. Envolveu-se com drogas e muita bebedeira. Os filmes já não faziam tanto sucesso. Parceiros da Noite, Autor em Família e Revolução receberam críticas pesadas da mídia e foram verdadeiros fiascos de bilheteria. Ele se afundava cada vez mais.
Para conseguir sair dessa enrascada ele seguiu o conselho de alguns amigos e com
eçou a participar dos Alcoólatras Anônimos. Deu resultado, ele nunca mais voltou a beber. Ele sente falta da taça de vinho após um dia cansativo de trabalho. É uma luta, mas ele continua ganhando!
O hábito de fumar dois maços de cigarro por dia ele só largou com 64 anos. Estava tendo problemas sérios com a voz. Hoje ele fuma cigarro de ervas, só de vez em quando.
Mas ficar sem algum vício não é fácil para o ser humano, então não demorou muito para Al se apegar ao café. Sempre que pode toma um café expresso bem forte durante o dia. As olheiras são então justificáveis. O ator sofre de insônia e não foi tão difícil ele encenar o policial Will Dormer no filme Insônia. O café só ajuda a manter os olhos fundos e aquela expressão de quem carrega os problemas do mundo nos ombros.
Al Pacino é também um cara cabeça fria com as coisas materiais. Não se preocupa com nada e esquece tudo. Ele contou que uma vez estava andando nas ruas de Nova Iorque e sentiu muito frio. Ele viu um sobretudo numa loja, provou e pediu para fazer alguns ajustes. Mais tarde voltaria para buscá-lo. Que nada! Ele esqueceu a compra e não voltou buscar.
Logo que começou a fazer sucesso comprou uma BMW branca de 35 mil dólares. Estacionou na frente de seu prédio e quando voltou ela não estava mais lá: “Desde a compra já sabia que era um erro, senti-me muito mal, parecia que queria me exibir”.
Para se vestir não faz cerimônia, só usa preto. Imagino eu que deve ser para combinar com a personalidade forte que, na maioria das vezes se nega a dar entrevistas, que não se deixou levar ao altar por nenhuma das insistentes namoradas e que demora muito para aceitar um papel. Sem falar que é preciso ter muita paciência com ele nos sets. As cenas que ele grava devem beirar a perfeição, são necessários vários ensaios antes do take final e esse gênio nunca está satisfeito.
Ele esconde por trás das rugas marcantes muito conhecimento, obtido através de experiência e muita leitura. Mas também tem um lado espiritual muito forte. Não parece possível que alguém como Al Pacino não brinde com água. Depois que ele descobriu que isso dava azar ele definitivamente nunca mais fez “tim tim” com um copo de água.
Mas o que mais chama atenção é seu lado religioso. Ele é um católico de rezar após acordar e antes de dormir. Antes de pegar o papel no filme O Advogado do Diabo ele resistiu muito, afinal ele interpretou o próprio Satanás. Mas resolveu aceitar como um desafio e com a benção de Deus se deu muito bem!
Apesar de nunca ter casado todos dizem que Al Pacino tem sua cara-metade. Não é nenhuma das deusas de Hollywood, apesar de Al ser conhecido por possuir uma bagagem rica de relacionamentos. A metade da laranja é Dustin Hoffman! Sabe aquela coisa de cara de um, focinho do outro? É isso que acontece com eles, são facilmente confundidos na aparência. Ele não se incomoda, mas ainda prefere a expressão cansada que carrega desde que se conhece por gente.
Não podemos deixar passar o fato de que Al Pacino parece um mafioso italiano. Não por ter participado do filme O Poderoso Chefão, mas ele carrega sangue italiano e da região de Corleone, na Sicília. Seus avós nasceram e cresceram em terras italianas. Coincidentemente o nome que levou Pacino ao estrelato foi Corleone. Além do sangue o ator sabe apreciar uma boa ópera e adora uma “pasta” italiana. O apelido carinhoso que foi dado para ele tamb
ém possui origem italiana: Sonny. Vai dizer que apelido não é coisa de carcamano?!

“Sou um ator, só sei falar através dos personagens que vivo”


Como já havia falado, Al Pacino abandonou a High School of the Performing Arts aos 17 anos. O inglês não estava em paz com o ator. Mas isso não foi um problema por muito tempo, Al conseguiu entrar no conceituado Actor´s Studio onde aprendeu muito com Lee Strasberg e apareceu para o meio artístico. Os teatros fuleiros nos quais encenava nos tempos de crise foram ficando para trás.
Sua grande chance veio com “The Indian Wants the Bronx”, pelo qual ganhou o prêmio Obie de melhor ator da temporada de 1966/67. Grande Al Pacino, apesar do 1,68m de altura já começa a ficar grande no cenário da atuação. Com esse prêmio conseguiu chegar na Broadway, da qual nunca mais saiu. Mas pintou a oportunidade de estrear no cinema e como Al Pacino adora desafios ele resolveu encarar. Começou pelo filme “Me, Natalie”, em 1969. Mas o filme que deu maior trabalho para o ator foi “Os Viciados”, para o qual realizou várias pesquisas sobre os hábitos dos usuários de heroína. Os elogios começaram a brotar!
Veio então o convite para Al Pacino fazer O Poderoso Chefão, no papel de Michael Corleone, em 1972. Mas como nem tudo é alegria, alguns produtores não aceitaram bem a idéia de ter um novato estrelando num filme com o mestre Marlon Brandon. Começaram a chamá-lo de “o anão Pacino”, tentando fazer com que sua altura fosse um empecilho para desempenhar um papel tão importante. Tanto foi o esforço para acabar com a figura de Al que o feitiço virou contra o feiticeiro. O ator conseguiu o papel e se esforçou como nunca para mostrar que merecia estar ao lado de Brandon.
O final da história todos sabem, foi um show de interpretação e até Marlon Brandon deu o braço a torcer quando afirmou que Al Pacino é o melhor ator do mundo. O anão virou um gigante!
Francis Ford Coppola chegou a dizer que é difícil trabalhar com o ator, ele tem um temperamento muito instável. Mas emenda que pelo resultado vale a pena: “Al consegue transmitir uma tensão terrível. Suas cenas de amor e violência possuem uma intensidade particular. Creio que só Marlon Brandon consegue ir tão fundo na expressão dos sentimentos”. Eu creio que Brandon não acha isso!
Muitos críticos não gostam de seus maneirismos exagerados, mas são poucos que conseguem manter a mesma voz, as mesmas olheiras, o mesmo cansaço e mostrando sempre algo diferente.
Recusou também muitos filmes que fizeram sucesso como Kramer vs. Kramer (sua cara metade fez o dublê dele – Dustin Hoffman), Nascido em 4 de Julho, Apocalypse Now, Uma Linda Mulher, Maré Vermelha, Star Wars...
Al Pacino se dá ao luxo de escolher seus personagens, não por grandeza. Ele explica: “Os objetivos de uma pessoa devem sempre exceder seu alcance. Senão, do que serviria o paraíso?”. Em relação a recusa de Apocalypse Now, Pacino disse que faria qualquer coisa por Francis Ford Coppola, o diretor do filme, menos ir à guerra!
Al Pacino se entrega tanto aos personagens que chega a confundir-se na vida real. Quando estava gravando Serpico, no qual interpretava um policial nova-iorquino super correto, ele chegou a parar um caminhão e ameaçar o caminhoneiro de prisão, já que o veículo estava poluindo demais a rua. Na gravação de Perfume de Mulher ele estava tão submerso na pele do cego Frank Slade que chegou a ferir um olho, após esbarrar num galho de árvore na saída do set. Ele jura que não viu!
Quando fez o advogado em Justiça para Todos sempre que via pessoas conversando sobre algum problema legal ele queria participar e dar opinião como um advogado, ver documentos e dar conselhos. E em Scarface, no qual fazia o poderoso traficante Tony Montana, o cachorro do vizinho investiu contra ele. Ele reagiu como se fosse Montana, gritou de tal forma que deixou o cachorro amedrontado.
Assim que ele brilha em qualquer papel que faça. A pesquisa dos personagens é tão profunda que ele acaba tomando aquilo para si. “Superficialidade não ajuda ninguém a progredir. O grande desafio é definir quem é esse sujeito que se vai viver. Quanto mais pesquisa, mais o ator se vê envolto em uma teia de oportunidades”. As suspeitas da capacidade que Al Pacino tem para cair de cabeça nos personagens é fruto da infância. A infância sem perspectivas só mudou com a determinação de atuar.
Quem concorda com isso é o diretor Garry Marshall, que trabalhou com Al no filme Frankie & Johnny. O diretor consegue ver a insegurança no ator. Se ele souber que alguém está rindo dele prontamente ele pára de gravar. Mas ao mesmo tempo Marshall diz que Al Pacino é ingênuo, é um Dom Quixote andando por Hollywood. Mas voltaremos a lista de filmes, ela continua...
A carreira continua próspera. Depois de Serpico ele faz um bissexual em Um Dia de Cão, que lhe rendeu mais fama. Depois veio alguns fracassos e uma fase nada boa para o ator, que já foi comentada aqui. Dessa fase temos Scarface que foi um brilhantismo de atuação. Os gritos, a expressão pesada, o ar de dominação é simplesmente incrível.
Ele fica durante um tempo refugiado nos teatros, afinal Al Pacino nunca deixou de lado os palcos, a verdadeira paixão do ator. Então ele volta em grande estilo com o filme Vítimas de Uma Paixão e por aí a carreira dá um solavanco e vai para frente. O respeito pela figura de Pacino só aumenta, levando uma sexta indicação para o Oscar. Mas não foi dessa vez.
O grande Oscar chegou através do filme Perfume de Mulher, no qual ele interpreta um ex-militar cego e rancoroso. Ao lado de Chris O´Donnell o filme foi um sucesso. A cena de tango é memorável, quem não se lembra da leveza do cego dançando tango com uma linda mulher?! Impossível não lembrar. Quem assistiu ao filme guarda isso pra sempre.
Outros filmes que fizeram fama foram colocados de bandeja na frente de Al. Ele recusou! Ele se dá ao luxo de escolher produções menores, mas que renderam grandes sucessos! “Quando o script não é bom, é quando te oferecem mais dinheiro para interpretá-lo. Quando recebo um roteiro ruim sei que vou faturar muito se fizer o filme. E o inverso é verdadeiro também. Se me derem um grande roteiro ficarei feliz se não tiver que pagar para fazer o filme”. Ele escolhe, mas não pela fama e sim pela qualidade.
Outro grande sucesso foi “O Pagamento Final”, outra parceria com Brian de Palma, depois do sucesso de Scarface. O que fez o ator aceitar o papel do ex-traficante Carlito Brigante foi uma única frase: “Onde foram parar todos esses caras? Onde foi parar toda aquela energia? Eles deveriam ter escalado montanhas, escrito poemas, feito coisas. Ao invés disso, foram parar nos esgotos”. A frase foi tirada do filme! Cinema é assim! Interpretou também Dick Tracy, tirado dos quadrinhos. Foi mais um sucesso e o personagem preferido. Porque foram apenas 5 semanas de filmagem! Al Pacino é uma figura!
Entre tantos outros filmes de sucesso Pacino participou da mini-série “Angels in America” no ano de 2003.
Ele faz um advogado capaz de tudo para alcançar o poder. Quando ele descobre que tem AIDS ele se nega a perder seu status e esconde a doença de todos. Mais um personagem marcante para a vida do ator. Ganhou um Emmy com a atuação.
Para voltar a fazer a seqüência de O Poderoso Chefão Al Pacino recebe um dos maiores salários já pagos em Hollywood na época: US$500 mil! Mais de 5% do faturamento total do filme. Sobre o personagem ele diz que nunca se viu no papel de Michael Corleone, Francis Coppola é que viu! Bom para nós! O cinema precisa de bons olhos como esse!
Para terminar a trilogia ele exigiu US$7 milhões. Coppola não gostou nem um pouco dessa imposição e começou a escrever um novo roteiro, com o funeral de Michael Corleone. Pacino deu o braço a torcer e aceitou fazer o filme só por US$5 milhões. Nota-se então que a experiência do ator é diretamente proporcional ao salário. Em Insônia ele chegou a receber US$11 milhões. Isso que não foi uma de seus melhores personagens.
Ele nunca deixou os teatros. Sempre que pode ele bota os pés num palco. Cansado da rotina, Al Pacino sempre busca desafios. Agora além de atuar ele quer dirigir e editar! É um mestre! A receita para tanta empolgação? “É do entusiasmo que surge a energia que, por sua vez, vem do risco de cada trabalho”.
Sempre envolto em projetos, Al Pacino nunca sai de cena. Há pouco tempo foi para as telas de cinema com “Treze Homens e um Novo Segredo” e boatos soltos ao vento trazem a novidade de que Al Pacino será Salvador Dali no cinema!
Al Pacino pode ter a idade que tiver e as manias que quiser, mas nunca nos cansaremos de ver os olhos cansados, os ombros caídos, as rugas profundas e a voz de fumante. Queremos mais olhos esbugalhados, sorrisos demoníacos, gritos tensos e a grandeza dos 1,68m de altura.

Por Fernanda Giotto Serpa

Um comentário:

  1. Nossa adorei esse testo de Al Pacino, ele com certeza e um ótimo ator com uma talento inigualável, com grandes atuações que fez o mundo voltar todas as atenções para ele.E como eu q já vi muitos e muitos filmes dele considero ele um dos melhor [se ñ for o melhor] do cinema.AL PACINO e um grande homem e um grande ator.

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