segunda-feira, 23 de março de 2009

O velho lobo solitário

O carro Gran Torino apenas dá nome ao filme. Eu imaginava algo diferente. Na verdade, um amigo meu imaginava uma cena mais ou menos assim: depois de fazer justiça o velho Wally, ou Walter (Clint Eastwood) está em seu Gran Torino, com ferimentos graves no peito, causado por um tiroteio. Ele liga o carro e segue para um lugar tranqüilo, onde ele morre e o motor do carro continua ligado...e assim o filme termina. Um velho lobo solitário em seu Gran Torino. Mas é óbvio que esse melodrama não acontece, e é óbvio que não vou contar o final.
Minha amiga Tati já deixou seu veredicto sobre o filme no blog. Mas não posso deixar esse filme passar em branco. Clint Eastwood rosnando como um cachorro velho, o mesmo bom e velho Clint Eastwood de “Os Imperdoáveis”. Não que o papel seja o mesmo, mas a atuação é brilhantemente igual. Você acaba simpatizando com o velho racista e rabugento, sempre acompanhado por sua fiel labradora. Eu geralmente gosto desse tipo de personagem: cheio de defeitos, mas no fundo um cara bom. Mocinhos disfarçados de vilões.
Falando da história, rapidinho. Walter perde a esposa no início do filme e passa a morar sozinho, na mesma casa de sempre, numa vizinhança de chineses. O porém é que ele odeia chineses, ou qualquer tipo de “china”, como ele fala no filme. Ele é um velho veterano da Guerra da Coréia. Mas quando ele defende seus vizinhos de uma gangue chinesa com um estilo americano a vizinhança passa a ter ele como um herói. Os laços se estreitam cada vez mais, e ele começa a sentir um carinho muito grande pelos “chinas”. Principalmente por Thao, que ele chama de Torto, e Sue que o aproximou da sua família.
O personagem mais engraçado do filme é o padre. Walter o define como um padre virgem de 27 anos que passou a maior parte da vida num seminário e não sabe nada sobre a vida e a morte. Não se confessa de jeito nenhum com um garoto que acha que é padre. Essa implicância entre os dois gera, no final, uma cumplicidade, um novo laço de amizade.
Gran Torino tem mais a ver com Menina de Ouro do que parece. Primeiro o personagem de Clint Eastwood, um velho ranzinza e difícil de mudar, que não dá espaço para as pessoas chegarem nele e tem problemas com a Igreja. Em ambos os filmes os padres insistem para que os personagens de Eastwood rezem e se doem a Igreja. Os personagens não acreditam e ainda debocham da religião. Nos dois filmes temos os “subordinados” de Clint. A boxeadora, interpretada por Hillary Swank, demora a ficar amiga do chefe, mas no final torna-se mais do que amiga, é quase uma filha. E Thao é o menino do Gran Torino, que no começo do filme tenta roubá-lo, mas depois vira um grande aliado e amigo de Wally. Nos dois filmes também há problemas familiares. Clint Eastwood não se relaciona com as famílias e as evita, com seu jeito nada simpático de ser. No filme Menina de Ouro ele nem chega a ter um relacionamento com
a filha. Manda cartas toda semana, mas elas sempre voltam. Incrível como os filmes são parecidos, mas seus roteiros convergem para histórias totalmente diferentes.
As imagens são muito bem produzidas, dando ênfase para a expressão de Wally e dando vida para seus rosnados, que são simplesmente demais. Você também se apaixona pelo Gran Torino. Óbvio, o carro é demais. No filme todo mundo bota um olho gordo e o desejam para si, inclusive os espectadores.
O que é mais divertido no filme são as ironias de Walter, piadinhas no meio de um drama. Nada melhor que isso. Rir de uma situação trágica, isso acontece o tempo todo. Caso você assista ao filme preste atenção na última música. A voz não lhe parece familiar? Rouca, velha...Pois é Clint Eastwood é mais do que ator e diretor...

Assista ao trailer abaixo.


Por Fernanda Giotto Serpa

Nenhum comentário:

Postar um comentário