domingo, 29 de março de 2009

Emoções através do olhar


Ontem peguei um filme por pura curiosidade. Ouvi falar muito dele, alguns comentários positivos e outros negativos, e ele também está no livro “1001 filmes para ver antes de morrer”. Já sabia que não era um filme que eu amaria, tanto que estava com receio de pegar. Mas mais que eu não gostar do filme não aconteceria.
O filme é “O escafandro e a borboleta”. Conta a história do editor da revista Elle, Jean-Dominiqui Bauby (Mathieu Amalric), que sofreu um AVC, e ficou com apenas um movimento motor do seu corpo – o olho esquerdo. O filme é sobre isso! Conta como ele passou esse último momento da vida dele, paralisado numa cama, conseguindo apenas comunicar-se piscando o olho e com toda uma imaginação incansável dentro dele.
As primeiras cenas do filme são as que mais causam estranheza. Passa talvez em uns 25 minutos de filme sem vermos o rosto de Bauby. Apenas enxergamos o que ele enxerga e da maneira como ele vê. Imagens borradas e tremidas, os cortes de imagem e os planos seguem o seu olhar, totalmente subjetivo. Foge do tradicional. Isso desperta a curiosidade do espectador. Você quer descobrir como ele é, quem ele é, como aconteceu e como era a vida de antes. O que te impulsiona a ver o filme. Mesmo depois que conhecemos Bauby o filme continua usando na maioria das vezes a câmera subjetiva. Acredito que sirva para entendermos como era estar no lugar dele. Em alguns momentos dá certo incômodo de ficar nessa posição subjetiva, gera uma certa agonia.
A princípio ele só responde perguntas com respostas “sim” e “não”. Uma fonoaudióloga passa a trabalhar com ele uma nova maneira de montar frases através do vocabulário. As letras são ordenadas de acordo com a usualidade delas – das mais comuns para as menos usadas. Essa é única maneira de contato que Bauby possui com o mundo. É incrível como Amalric interpreta o papel. Imagino que não deve ser nada fácil passar emoção através de um corpo paralisado, com apenas um olho como janela para o mundo. O espectador sente a emoção. Através desse alfabeto Bauby escreve um livro. Paciência e determinação são com certeza os principais atributos para conseguir chegar a esse objeto. E logo se vê que esse homem não sente pena de si mesmo. Com a ajuda de sua editora ele consegue passar o que precisa para o papel.
No decorrer do filme entramos nas memórias de Bauby, em momentos que ele se lembra de como ele era. Momentos com os filhos, momentos no trabalho e momentos com seu pai. Essas informações vêm complementar aquilo que já subentendemos sobre a vida dele nos momentos em que ele está no hospital. Ele também mostra seus sonhos, seus desejos. Das coisas mais simples, como a sensação de voltar a comer um excelente jantar, ou das mais profundas, como o toque de uma mulher.
O título do filme encaixa-se na mensagem de duas maneiras, de acordo com o que eu penso. O filme deixa clara a mensagem de que no momento em que o AVC deixou Bauby paralisado ele fechou-se em seu casulo, ou em seu escafandro (vestimenta impermeável, com aparelho respiratório, própria para mergulhos longos) e deixou de ser livre, como uma borboleta. Ele fechou-se para o mundo, esperando uma nova maneira de libertar-se. Eu interpretei da seguinte maneira: antes do AVC Bauby estava em seu escafandro, como todo ser humano, obedecendo regras da sociedade, com uma família e seu trabalho. A partir do momento em que ele ficou paralisado ele visualizou uma maneira de buscar a liberdade. Ele queria voltar a ter sua vida normal, mas através do seu olho ele co
nseguiu libertar-se das suas memórias, idéias, sentimentos, vontades. E por último a morte, que para muitos significa libertação, e não perda.
O filme me lembrou muito a história de “Mar Adentro” com Javier Bardem. Pessoas que tem suas vidas modificadas pela paralisia. Claro que o objetivo de ambos os filmes é diferente. Em “Mar Adentro” temos a luta pelo direito a eutanásia, em “O Escafandro e a Borboleta” temos a busca pela comunicação. O comum entre os dois é onde isso termina: percorrendo a liberdade.
O filme não é dinâmico. Ele trabalha com emoções retraídas que precisam ser expostas. A história muitas vezes chega a ser lenta, esmiuçando todos os sentimentos e expressões de Baudy. Até agora não sei dizer se gostei ou não do filme. Apenas tenho sensações em relação a vida do editor da revista Elle, como uma reflexão. É um filme que foge do convencional. Ele não possui uma trama central, nem um objetivo. Passa a contar como é ter apenas o olho como contato com o mundo.
Diferente desse foi o outro filme que assisti durante o fim de semana: Carga Explosiva 3. Esse é o tipo de filme “facão”. Mas se eu for contar todas as peripécias de Frank Martin (Jason Stathan) vale mais um post inteiro.

Assista ao trailer do filme "O Escafandro e a Borboleta abaixo:




Por Fernanda Giotto Serpa

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