quarta-feira, 25 de março de 2009

Cinema em palavras

Hoje vou falar sobre um livro, mas um livro sobre cinema. O nome é “Cinema - o mundo em movimento”. O autor é Inácio Araújo. Excelente livro para quem não conhece nada sobre cinema, ou apenas tem um conhecimento mais restrito. O livro vai contando todos os passos da evolução cinematográfica. Desde as primeiras imagens dos Irmãos Lumière, que eu já citei no blog, até o momento em que o cinema se fixa como arte própria.
As influências de outros meios são visíveis. Teatro e TV foram caminhos que o cinema tomou e incorporou muita coisa de ambos para si. No início, quando não existia a idéia de roteiro estruturado, o cinema muitas vezes era responsável por passar as notícias do mundo, sendo assim um meio de informação direto. Hoje existe informação no cinema de maneira indireta, um filme que leva uma pessoa a reflexão, ou que faz reconstituição de fatos que já aconteceram, biografias, adaptações de livros são uma maneira de informação.
O teatro foi o representante da primeira cara do cinema. A câmera fazia o papel de alguém que estava assistindo uma peça. Sempre estática, com um único ângulo de visão, uma mesma distância e enquadramento. A música era tocada simultaneamente por alguém fora do palco. Uma apresentação ao vivo gravada - é isso o que parece.
Méliès começou a dar vida própria ao cinema quando sua câmera estragou e ele percebeu que o intervalo de tempo entre uma gravação e outra significava alguma coisa. A partir daí ele passou a usar essa novidade. Já falei sobre isso aqui no blog também, se eu não me engano duas vezes. Mas não me custa repetir. Foi a técnica de gravar uma cena e desligar a câmera propositalmente. Com a câmera desligada se coloca ou retira objetos da cena e começa a gravar novamente. É como se fosse um ilusionismo. Coisas aparecem e desaparecem na frente do espectador. Essa descoberta deu o caráter fantasioso do cinema. Uma evolução nos valores. Hoje podemos chamar esse efeito visual de trucagem, que o cinema não se cansa de usar, como por exemplo, a sobreposição de imagens. Aliás Melies usou isso também!
Griffith também deu sua importante contribuição, uma das maiores, eu acho! Ele foi o primeiro a decidir que as câmeras deveriam ficar perto dos personagens, para criar uma aproximação, uma relação com o espectador. Os atores que não gostaram nada da idéia. Quanto mais perto, mais imperfeições apareciam e mais valia a boa interpretação. Grande momento da maquiagem, essencial hoje para o cinema, que se fez necessária com Griffith. Ele também desenvolveu a montagem paralela, na qual duas ações que acontecem ao mesmo tempo alternam-se na imagem.
Nos anos 10, a comédia era o gênero predominante. A montagem passou a dar vida aos outros gêneros, tão comuns hoje para nós. A montagem criou a narrativa, quebrou a monotonia da câmera fixa, estruturando melhor a ação. E em 1915 foi criada a grandiosa Hollywood, com a instalação dos estúdios da Universal. Tudo no cinema era feito dentro dos estúdios com muita produção. Após a Segunda Guerra Mundial essa festa acabou. As pessoas conhecem a verdade e querem também isso do cinema. Foi o grande impulso para abrir as portas dos estúdios e ir a campo. Mais realidade e menos imitações.
O som. O aspecto mais discutido em sala. Pois é, discutimos o livro na aula de cinema. E a evolução do som causou estranheza pra grande maioria. Uma coisa tão simples e básica no cinema de hoje: o som. Pois fique sabendo que não foi nada fácil chegar até ele. A Warner foi responsável pela criação do aparato técnico para conseguir produzir a gravação do som. Mas e agora? O que fazer com os atores do cinema mudo? Muitos não sabiam interpretar diálogos e não tinham uma boa voz. Pra tudo se dá um jeito: criaram os musicais. Cantores têm expressão e voz! Pronto. Mas a partir do som a figura do diretor se faz cada vez mais necessária. As mudanças de ângulos de câmera, interpretação... Uma grande evolução que começou a dar traços próprios ao cinema.
A maneira explicativa com qual Araújo trabalha no livro deixa claro tanto a parte histórica quanto técnica do cinema. Sem falar nos exemplos, tudo o que ele expõe é simplificado. Para quem conhece os exemplos há uma clareza muito maior ao ler o livro. Para quem não conhece fica a curiosidade de conferir. É instigante.
E para quem não gosta de ler, mas gosta de cinema e da sua história, o livro tem mais um ponto positivo: fotos, muitas fotos. Isso dá mais embalo ainda ao ler o livro, você não conta as páginas para ver quanto falta. A leitura simplesmente flui, naturalmente. Quando vi a foto de Al Pacino, em Scarface criei uma relação diretamente emocional com o livro. Sério! Fiquei muito feliz. Quando ele fala de “Os Imperdoáveis” então... Pensei: “Eu vi esse filme, eu vi!”.
Para quem já conhece é uma leitura de significados e repertório. Para quem não conhece é um ponto de partida instigante para passar a conhecer. Aos preguiçosos, vamos lá, tentem, leiam. Poucas páginas que passam voando e deixam um gostinho de quero mais (isso foi extremamente clichê).
Por Fernanda Giotto Serpa

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