domingo, 3 de maio de 2009

Seria cômico se não fosse trágico!

Nicolas Cage está mais deprimente em “Adaptação” do que em “O sol de cada manhã”. Como ele mesmo se chama durante o filme ele é um gordo, patético, careca e feio. Ele é um roteirista que recebe o trabalho de adaptar o livro sobre orquídeas da escritora Susan Orlean, vivida por Meryl Streep. O livro conta a história de John Laroche (Chris Cooper), um fornecedor de plantas raras que lucra com a venda para colecionadores.
O personagem de Chris Cooper é outro desequilibrado. Na realidade todos os personagens são um tanto quanto problemáticos. Cada qual com seus problemas e conflitos pessoais. Laroche é mais chamativo, só isso. Um homem sem os dentes da frente, meio grosseiro, que tem uma van imunda e muda de hobby constantemente. Ora são as orquídeas, ora o site pornô, ora fósseis. Definitivamente ele é um homem sem rumo na vida.
Susan Orlean é uma jornalista que trabalha na revista “The New Yorker” e aparentemente está satisfeita com a vida que leva. As aparências enganam. O modo como Laroche leva a própria vida abala a maneira de viver de Susan. Ela fica sem rumo na história. Ela passa de uma mulher decidida e bem-sucedida para uma mulher problemática, volúvel e indefesa.
Dentro da vida do personagem de Cage, Charlie Kaufman, tem também seu irmão gêmeo Donald. Sabe aquele cara chato, que sempre fala nas horas importunas e coisas importunas? É esse! Um típico sanguessuga. Mora com o irmão e quer ser um roteirista como ele. Ele faz um curso para aprender. As idéias de roteiro dele são as mais engraçadas. No fim você acaba se afeiçoando ao personagem.
A parte boa do filme é deixar o espectador sempre confuso em relação à narrativa da história. Será que Charlie Kaufman estava contando a história do seu roteiro? Será que aquilo já era o roteiro gravado, como um filme dentro de um filme? Ou era mesmo a história da difícil produção do roteiro? Você vai entendendo isso aos poucos, com o andamento da história.
O filme trás também uma estrutura não-linear quando se trata da montagem da história. As idas e vindas no tempo são constantes e na vida de personagens diferentes. Estamos num tempo com Cage e logo passamos há alguns anos atrás com Meryl, e logo depois mais anos voltam atrás para Cage. A princípio você confunde um pouco, mas a montagem faz sentido rapidamente e você consegue seguir o objetivo da história.
O filme ganhou o Oscar de Ator Coadjuvante com Chris Cooper. Concorreu também ao Oscar de Melhor Ator, com Cage; Melhor Atriz Coadjuvante, Meryl Streep e Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Recomendo essa comédia dramática. Como é aquele ditado mesmo? Seria cômico se não fosse trágico! Essa é a vida de Charlie Kaufman! Assista ao trailer:

Por Fernanda Giotto Serpa

Um comentário:

  1. Ah, eu amo esse filme... Mas eu sou suspeita para falar pq sou muito fã de Charlie Kaufman e Spike Jonze. Acho esse um dos roteiros mais maduros do Kaufman. Mas meu filme preferido dele será sempre "Quero Ser John Malkovich". Melhor papel do Cage em muito tempo...

    ResponderExcluir