sexta-feira, 29 de maio de 2009

Hurra!

Acabei de assistir “Encouraçado Potemkin”, de Serguei Eisenstein. Antes de falar sobre o filme, vou comentar rapidamente sobre o movimento do qual ele faz parte dentro do cinema. “Encouraçado Potemkin” é fruto do Experimentalismo Soviético. Se hoje existe a é montagem é graças aos russos! O Experimentalismo tem na sua essência o coletivismo. Ele trabalha com o todo, já que é anti-individualismo capitalista. Vai contra também os temas da dramaturgia burguesa. O Experimentalismo Soviético nega o cinema Hollywoodiano, nega o cinema produzido para o mercado e obtenção de lucro. Por isso que a partir do momento no qual os comunistas tomaram o poder o cinema foi nacionalizado, e utilizado, principalmente, como um instrumento de propaganda – daí a ênfase no coletivismo.
Nasce aqui o filme que tem um ideal político. Ele não é apenas um roteiro de produção para o mercado, o filme vem com o objetivo de transmitir uma idéia política e, de certa forma, um objetivo de manipulação. Dziga Vertov foi um importante cineasta do movimento. Ele fez um cinema de não-ficção chamado de Câmera Olho. A diferença é que não era a realidade propriamente dita, Vertov mostrava a visão de como o mundo deveria ser. Sendo assim, os filmes de Vertov não são apenas documentários, já que trazem uma opinião (que aparece através da montagem e tipos de câmera) embutida no seu significado. Ele não tem a simples função de mostrar uma imagem.
Pulando agora para o “Encouraçado Potemkin”. Passar uma sinopse rápida por aqui! O filme é ambientado na Rússia Czarista, em 1905, quando aconteceu uma revolta que “pressagiou” a revolução de 1917. A história começa no navio de Potemkin quando os marinheiros se revoltam com a comida estragada e pelos maus tratos que sofrem dentro do navio. O médico que está a borda analisa a carne e insiste em dizer que ele está perfeita para o consumo. Os soldados se negam a comer e recusam a sopa também. Quando o comandante do navio sabe dessa greve ele manda enforcar todos aqueles que não gostam da sopa. Alguns marinheiros são botados num canto e o comandante manda executá-los. Entra em cena o marinheiro Vakulintchuk, que grita para os soldados e pede para eles pensarem de que lado eles estão. Os soldados não atiram, o comandante se revolta e uma briga entre marinheiros e oficiais começa. O final disso é a morte de Vakulintchuk! E a partir daí o filme mostra a união dos marinheiros contra a submissão na qual vivem. Tanto que o lema dos marinheiros é “Um por todos. Todos por um” – mais uma vez a idéia do coletivo.
Esse filme foi um marco na história do cinema. Eisenstein é considerado um dos maiores diretores de todos os tempos pela herança que deixou para o cinema do mundo. A produção do filme só aconteceu porque o projeto foi um dos escolhidos, em 1925, pelo comitê central do Partido Comunista para comemorar os 20 anos da Revolução. Foram destinados três milhões de rublos para a produção de oito filmes.
O prazo de entrega do filme era 20 de dezembro de 1925. Em setembro do mesmo ano Eisenstein percebeu que não daria para resumir, com qualidade, todos os acontecimentos de 1905. Logo ele decidiu que focaria apenas nos acontecimentos relacionados ao encouraçado de Potemkin, e através dele ele transmitira os ideais comunistas. Sendo assim, Eisenstein brincou um pouco com a história e deu um final diferente ao ocorrido. Ele contou sobre a união dos marinheiros para alcançar um desejo coletivo (como aconteceu), e em vez de mostrar a derrota, ele trouxe a vitória (o que não aconteceu). Assim ele conquistou ainda mais o público, através de um sentimento feliz e de esperança.
Alguns problemas de produção atrapalharam e atrasaram as filmagens. Primeiro que Eisenstein precisava de um barco igual ao da época, já que o barco é o personagem principal do filme e traz embutido nele a idéia de coletividade. Na enseada de Sebastopol estava ancorado um barco idêntico ao Potemkin, chamado Os Doze Apóstolos. Porém ele não estava em condições de uso. Eisenstein improvisou. Virou a proa para o mar (assim não apareceria a costa) e depois montou uma maquete que foi utilizada para filmar os planos gerais do barco. As tomadas foram tomadas realizadas na piscina mourisca dos banhos públicos de Moscou. Quem diria que aquilo era uma maquete, hein?
Já a cena da escadaria, uma das mais famosas do filme, não estava no roteiro. Ela simplesmente aconteceu e coube na hora da montagem. Aliás, a montagem do filme só foi terminada horas antes da sua primeira exibição, em 21 de dezembro de 1925. Imagine que Eisenstein tinha apenas 27 anos.
O filme traz a idéia do épico e da tragédia. Eisenstein se recusou a usar atores profissionais no seu filme. Ele fez uma seleção criteriosa entre pessoas comuns. Pode-se dizer que isso encaixa-se também na esfera ideológica do seu filme e da época, que recusava o capitalismo e individualismo. Pra quê então usar atores profissionais, se as pessoas comuns podem ser usadas também? Foi isso que Eisenstein fez, reafirmou a idéia do coletivo. O filme é um show de emoções. As expressões, câmeras em close, a cena da escadaria, as pessoas chorando com a morte do marinheiro Vakulintchuk, o idealizador da revolta no filme.
A princípio o filme não é a coisa mais atrativa para se assistir. Mas a narração, a trilha sonora (indicando momentos de clímax, calmaria e suspense) e as imagens (que não são fixas) embalam o filme e tudo passa muito rápido.
Além de um trecho do filme deixo também um dos últimos trechos apresentados no filme: “A bandeira da liberdade tremulava sobre todos”. Hurra! (Como os marinheiros gritam).






Fontes de Pesquisa:
Ø http://www.dvdmagazine.com.br/rubens/historia_5.htm
Obs: Não há informações sobre o livro "Eisenstein" de Arlindo Machado. Esse fica para amanhã!

Por Fernanda Giotto Serpa

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