sábado, 8 de agosto de 2009

Valsando

Tenho a honra de apresentar a 100ª postagem do nosso blog, e vem com um ótimo filme. Tenho que concordar com as palavras do dono da locadora onde eu pego filmes. “Valsa com Bashir” é um P*** filme. Na verdade é um documentário em forma de animação, pode-se dizer que é até surrealista, mas não deixa de transpor para a tela a verdadeira realidade da Primeira Guerra do Líbano. A sombra, pesando na cor preta, a mistura do 2D e 3D e as cores predominantes em cada cena, como o alaranjado e o azulado, mostram o verdadeiro ambiente de tragédia.
O mais estranho é que quando pensamos em documentário e animação eles parecem totalmente opostos. O documentário sempre vem com a missão de transmitir realidade, veracidade. Enquanto a animação parece encobrir isso, e mudar a maneira como vemos as coisas. Mas Ari Folman conseguiu encaixar muito bem essas duas vertentes e passar uma mensagem de guerra com muita realidade.
O diretor e roteirista Ari Folman é o personagem principal do filme. No começo do filme ele conversa com um amigo num bar, que lhe conta um sonho que tem repetidas vezes, e que o remetem ao tempo em que serviram no exército de Israel. Ele conta que no sonho 26 cães furiosos o perseguem e ele reconhece cada um. A estratégia militar da época era, primeiramente, matar os cães, pois muitas vezes eles alertavam a sua presença. Seu amigo matou 26 deles!
Até que Folman começa a perseguir suas lembranças, que parecem apenas ilusões. Ele esteve lá, mas depois de tudo o que viu era mais fácil ausentar-se e ver tudo o que aconteceu como se estive atrás de uma câmera, protegido, apenas vendo tudo de longe. E assim ele vai atrás de pessoas que estiveram lá com ele, e elas alimentam suas lembranças, trazendo todos os episódios à tona e fazendo-o se posicionar de uma maneira diferente – colocando-se novamente no meio da guerra e de todos os horrores que ela proporcionou.
Os depoimentos são em forma de entrevista. Desde militares, até um jornalista que cobriu a situação. Vemos os personagens sentados nas cadeiras e contando aquilo que viveram. O formato em desenho não consegue mascarar a realidade das histórias e dos momentos. Uma parte de vital importância é quando chegamos aos dias 15 e 16 de setembro de 1982, quando o massacre aconteceu.
Bashir, líder dos falangistas cristãos, foi assassinado – e esse foi o estopim para os seus seguidores seguirem com o massacre de milhares de refugiados palestinos em Sabra e Shatila. Crianças, mulheres, idosos, e os homens. A crítica de Folman é sobre a passividade e a conivência do Exército de Israel para com a situação. E claro, a auto-avaliação, afinal ele esteve lá, ele também foi conivente, e ele não tinha memória dos acontecimentos.
O impacto, o “gran finale”, é quando não vemos mais animação, quando não existe mais o desenho. São as imagens de verdade, rostos de pessoas, desespero das mulheres, corpos empilhados, e a criança de cabelos cacheados no meio dos escombros.





Por Fernanda Giotto Serpa

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